#CearádeAtitude: Bienal do Ceará tem curadoria de um dos maiores biógrafos do Brasil

29 de abril de 2017 - 14:00 # # # #

Wania Caldas - Gestora de Célula / Conteúdo
José Wagner - Gestor de Célula / Fotografia

A série especial Ceará de Atitude, que completa um ano neste mês de abril, conta a trajetória de Lira Neto, o escritor cearense que hoje é um dos maiores biógrafos do Brasil

A XII Bienal Internacional do Livro do Ceará, realizada neste mês no Centro de Eventos do Ceará, foi a maior da história. Reuniu escritores, leitores, editoras e palestrantes em um mesmo espaço, em que a literatura era o assunto principal. Na curadoria do evento, um dos maiores biógrafos do Brasil: Lira Neto. Natural de Fortaleza, Lira é autor da trilogia sobre Getúlio Vargas, que vendeu a imponente marca de mais de meio milhão de exemplares. Agora, está viajando o país inteiro para lançar seu último trabalho, “Uma História do Samba – As origens”.

Hoje, com 53 anos, ele conta que o reconhecimento, no entanto, não foi de um dia para outro. Muito menos a descoberta do talento. Lira Neto estudou Topografia, trabalhou como vendedor, professor, balconista, e desistiu de duas faculdades: Filosofia e Letras, até que descobriu a paixão pelo jornalismo em um jornal da Capital. “Minha vida sempre foi uma busca, uma tentativa de me encontrar naquilo que me satisfizesse, mas não conseguia saber bem o que era. Um dia, apareceu a vaga de revisor no jornal Diário do Nordeste. Eu nem sabia o que era revisão num jornal e me explicaram que era aquele sujeito que revisava, que corrigia os textos. E como eu sempre li muito, sempre tive muita facilidade para escrever, achei que podia me candidatar à vaga. Fiquei com a vaga e no dia que eu pus os pés no jornal, já perto dos 30 anos, eu descobri que era aquilo que eu queria fazer”, lembra.

“Eu descobri o jornalismo, essa grande paixão que até hoje me mobiliza e me comove”.

Pouco tempo depois, Lira Neto sairia da revisão para a redação, desta vez no jornal O Povo. “Eu descobri o jornalismo, essa grande paixão que até hoje me mobiliza e me comove. Mas a vida de repórter sempre me trazia uma inquietação, uma incompletude. Eu sempre me incomodei com o fato de, no jornal, você ter pouco tempo para apurar uma história e pouco espaço para escrevê-la. E aí eu disse: eu preciso continuar sendo jornalista em um outro suporte, não na página do jornal”. Foi quando decidiu escrever livros para, de acordo com ele, escrever “sem a preocupação nem a pressão do tempo e do espaço”.

Assim, recomeçou mais uma vez. “Quando eu resolvi escrever livros, meus amigos jornalistas disseram: você enlouqueceu, você não vai conseguir sobreviver. No começo, confesso que foi difícil. Meu primeiro livro, a biografia do Rodolfo Teófilo, foi publicado ainda aqui em Fortaleza, “O Poder e a Peste”. Depois veio a biografia de Castello Branco, com uma tiragem modesta de oito mil exemplares. Em seguida, veio José de Alencar (O Inimigo do Rei), com 15 mil exemplares, mas a partir de Maysa, que tem 20 edições, fui conseguindo lentamente me libertar de outras atividades, como ser jornalista freelancer, me permitiu ser mais seletivo”.

O reconhecimento foi ainda maior com a publicação do livro sobre Padre Cícero e com os três de Getúlio. “Esse sucesso todo que cercou a biografia de Getúlio também se repetiu no livro sobre o samba. Hoje é minha fonte exclusiva de renda”, explica.

 

Personagens cearenses e a relação com o Estado

A escolha de alguns personagens, segundo Lira, tem a ver com a influência do Ceará. “Sempre li os autores cearenses. José de Alencar, que inclusive eu viria a biografar depois, Quintino Cunha, Antônio Sales, todos esses autores de alguma maneira repercutiram em mim. E não é à toa que se você pegar o apanhado dos meus livros, você vai ver pelo menos três cearenses: Castello Branco, José de Alencar e Padre Cícero. Então o Ceará está dentro de mim aonde quer que eu vá. Eu, por exemplo, agora todos os anos saio do Brasil para dar aulas em uma universidade americana e o Ceará vai comigo até lá. O Ceará nunca saiu de mim e nunca sairá”.

Essa ligação com o Estado se dá também nos seus lançamentos. O autor diz que estabeleceu uma espécie de ritual para lançar seus novos trabalhos: após Rio de Janeiro e São Paulo, vem para Fortaleza. “Eu faço questão de ter um grande lançamento em Fortaleza porque, felizmente, eu consegui cultivar um bom número de leitores na minha cidade. Só pra citar um exemplo: no lançamento do livro do samba, este ano, eu passei quatro horas autografando livros sem parar no Passeio Público. Eu tenho muito carinho pelo leitor e, aqui, de uma forma muito afetiva”.

 

“Estou há 16 anos fora, mas tenho uma ligação umbilical com a cidade e com o estado”.


Bienal

Convidado pela Secretaria da Cultura do Estado (Secult) para ser curador da Bienal Internacional do Livro do Ceará, Lira Neto diz que tem uma relação afetiva com o evento. “A Bienal Internacional do Livro do Ceará tem uma história de intimidade comigo. A primeira Bienal, que ainda se chamava Feira do Livro, eu cobri como repórter. Passei a primeira Bienal toda escrevendo as matérias daqui, ainda em máquina de escrever, e mandava para a redação em fax. E, nas edições seguintes, eu sempre fui convidado como autor. E dessa vez eu recebi o convite do secretário da Cultura, Fabiano Piúba, para fazer a curadoria”.

“Todo cidadão tem direito ao livro, à inclusão pela educação, à leitura, a descobrir o mundo”.

Nesta edição, o tema foi “Cada pessoa, um livro; o mundo, a biblioteca” e Lira diz que essa forma de perceber a cultura foi o que o fez aceitar o convite. “Essa Bienal a gente entende como uma política pública, de formação de leitores, de difusão da leitura e isso logicamente não seria possível sem a articulação entre os vários poderes e a sociedade civil, a iniciativa privada. E a Secult entende que o poder público tem um papel fundamental no desenvolvimento da cultura, colocando, inclusive, a cultura como uma das prioridades, não como algo acessório, mas algo que está no nível da necessidade básica de todo cidadão. Todo cidadão tem direito ao livro, à inclusão pela educação, à leitura, a descobrir o mundo. Eu, como curador da Bienal, tenho só que agradecer o papel da Secretaria da Cultura e o do próprio governador porque ele entende que a cultura tem que ser uma prioridade de estado, tem que ser uma prioridade de qualquer governo”, conclui.