Programa ajuda pacientes a deixarem o cigarro e a adotarem hábitos saudáveis
5 de abril de 2018 - 14:03 #cigarro #hospital messejana #saúde #tabagismo
Jessica Fortes - Assessora de Imprensa do Hospital de Messejana
O cheiro das mãos e das roupas, o hálito, o paladar, a aparência da pele, o fôlego. Muita coisa muda quando o cigarro deixa de fazer parte do cotidiano. Esses são aspectos mais imediatos, mas a verdade é que um ex-fumante percebe benefícios rápidos. Apenas 48h sem cigarro já fazem a sensibilidade do paladar e do olfato aumentarem. Num período de duas a doze semanas há uma melhora da capacidade pulmonar. Após um ano sem fumar, os riscos de um Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) são similares ao de quem nunca fumou.
Essas informações são repassadas pela pneumologista e coordenadora do Programa de Controle do Tabagismo do Hospital de Messejana Doutor Carlos Alberto Studart Gomes, Penha Uchoa, aos pacientes que buscam apoio para largar o cigarro. Por ano, cerca de 100 mil brasileiros geram uma desanimadora estatística: a de mortes relacionadas ao consumo do cigarro.
Na semana do Dia Mundial da Saúde, comemorado em 7 de abril, a Secretaria da Saúde do Ceará ressalta iniciativas que promovem a saúde e incentivam novos hábitos, como a iniciativa que é desenvolvida no Hospital de Messejana e com a qual já foram beneficiados pelo menos três mil cearenses.
Mudança de comportamento
Sair das estatísticas negativas e dar uma nova chance a si mesmo. É isso o que procura Thiago de Sousa, 34 anos, que começou a sentir as mudanças logo nos primeiros dias sem cigarro. O mais difícil tem sido a mudança de comportamento, segundo ele, que comemora dois meses, como ex-fumante.
Antes de decidir parar de fumar, a mãe e a esposa, já pediam para o vendedor de peças automotivas largar o cigarro. “Eu não dava ouvidos, o pedido delas até me irritava”, observa. Thiago, começou a fumar aos 14 anos e conta que já chegou a fumar 80 cigarros por dia. “Era parte da minha rotina. Meus amigos fumam, meus clientes fumam. Eu nem pensava em parar”, conta.
A decisão de Thiago só veio após uma internação. O diagnóstico de “ar no pulmão” e a orientação médica sobre os perigos do cigarro fizeram com que repensasse e decidisse viver sem o vício. “Parei! Minha saúde é mais importante”, confirma. A atitude veio acompanhada de mudanças: as tosses diminuíram, o fôlego melhorou, o paladar está recuperado e a incômoda irritação causada pela abstinência está sendo cada vez mais controlada.
“Estou mudando meus hábitos e isso não é uma coisa fácil, mas eu descobri um apoio que eu não sabia que tinha. Minha família tem me ajudado muito”, ressalta Thiago.
A realidade da aposentada Otília Rodrigues, 65 anos, não é diferente. Sua filha reprova o vício e já pediu para ela parar várias vezes. Somente após uma forte pneumonia ela resolveu seguir os conselhos e largar o vício.
Otília fumava cerca de seis cigarros por dia, os “pé duro” como se refere aos que ela mesmo produzia. “Nunca senti nada. Minha filha reclamava da minha tosse, mas eu não ligava. Fazia minhas caminhadas todo dia e achava que compensava. Mas o médico disse que não é bem assim, que precisava parar de fumar para ficar boa da pneumonia. Preferi a minha saúde”, relata.
Programa de Controle do Tabagismo do HM
Os dois ex-fumantes são acompanhados pelo Programa de Controle do Tabagismo do Hospital de Messejana, que atende atualmente 120 pacientes que decidiram ter uma vida mais saudável, longe do tabaco. Eles recebem alta após um ano de acompanhamento. O tratamento é baseado em abordagem comportamental e uso de medicamentos. O acesso é feito através de encaminhamento médico e de triagens feitas durante as campanhas dos dias mundial e nacional de combate ao fumo (31/05 e 29/09, respectivamente).
A pneumologista e coordenadora do Programa, Penha Uchoa, explica que parar de fumar é um processo que envolve várias etapas de motivação, que vão desde a fase de negação, “em que o fumante não admite que o tabagismo seja uma doença e, portanto, não quer parar de fumar; até a fase em que se encontra preparado para realizar a mudança do estilo de vida, parar de fumar”.
Uma vez inscrito, o paciente passa por uma triagem médica, na qual são colhidas informações pessoais relativas ao estado psicológico e quanto à motivação para deixar o cigarro. Exames importantes são realizados para revelar como está a saúde do paciente e seu grau de dependência nicotínica. Após a avaliação inicial, o paciente passa a fazer parte do grupo de apoio, no qual é realizado o tratamento padrão, baseado na abordagem cognitivo-comportamental, uso de antidepressivos e terapia de reposição nicotínica. Quando ingressam no tratamento, os pacientes são atendidos por equipes multidisciplinares compostas por médicos, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e assistente social.
Além do acompanhamento profissional, a pneumologista explica que independente da etapa em que o paciente encontra-se, é fundamental a adoção de hábitos saudáveis, como a prática de esportes e a educação alimentar, para o sucesso do tratamento.
Orientações que tanto Thiago já planeja colocar em prática. “É um processo, não é fácil, mas aos poucos vamos mudando os hábitos. A alimentação já passou por modificações, agora vou começar a praticar alguma atividade física. Com essas mudanças vou me distanciar dos hábitos que me faziam querer fumar. Terei uma vida nova”, complementa.
Saiba Mais:
Todo ano, aproximadamente seis milhões de pessoas morrem no mundo devido ao tabagismo, e previsões indicam que esse número subirá para oito milhões anuais em 2030, a menos que ações intensivas sejam tomadas. A Organização Mundial de Saúde prevê que o cigarro poderá matar mais de um bilhão de pessoas, principalmente por conta das doenças cardiovasculares, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica e diabetes. No Brasil a mortalidade é cerca de 100 mil por ano.