Maio Amarelo: o educador que se dedica à cultura de paz no trânsito de Paramoti
30 de maio de 2018 - 15:11 #Ceará #Detran #maio amarelo #Paramoti #trânsito
André Victor Rodrigues - Repórter
Marcos Studart - Fotos
Em alusão ao mês das ações de Segurança no Trânsito, a série especial Ceará de Atitude mostra o trabalho voluntário do professor Alexandre Honório com palestras de conscientização pela prevenção de acidentes
A imprudência nas ruas fez acumular acidentes e tristes relatos de mortes no trânsito em Paramoti. De tanto saber das tragédias a um passo de casa, Alexandre Honório inquietou-se. O professor de biologia uniu empatia e disposição para iniciar o trabalho voluntário como palestrante em eventos de Segurança no Trânsito em sua cidade natal. Viu que era possível transformar realidades com a divulgação de informações sobre o tema. Há quatro anos e meio ele consolida o projeto, utilizando o tempo livre que consegue para percorrer escolas, igrejas e associações cearenses com conteúdos de conscientização e cultura de paz.
“O índice crescente de acidentes de trânsito no meu município, principalmente entre os jovens, me sensibilizou. Logo eu pensei em fazer o trabalho em prol da educação e pela redução de acidentes. Comecei a me capacitar, fazendo vários cursos na área, para levar esse assunto da segurança no trânsito nas escolas, que até então não era falado em Paramoti”, conta.
A principal linha de ação dos cursos de Alexandre é o processo de conscientização das pessoas para o uso de capacete e cinto de segurança. Em palestras de 40 minutos, o educador fala para diferentes públicos, crianças, jovens e adultos, orientando de forma específica, de contexto a contexto, os deveres de cada um na manutenção do trânsito seguro e livre de riscos à vida.
Logo no início do projeto, o cearense constatou que o desafio de mudar a mentalidade de muitos motoristas e motociclistas que ignoram as normas de segurança é bem maior do que se pode imaginar. Decidiu cursar Pedagogia como forma de encontrar mais conhecimentos, ferramentas para compreender as diversas formas de aprendizagem. E assim ele sentiu que potencializou a sua organização das aulas e consequentemente a eficiência das mensagens sobre trânsito.
“Geralmente as pessoas só começam a trabalhar sobre algo que está acontecendo negativamente quando isso alcança grande escala. O meu trabalho é preventivo. Eu quero colaborar da forma que posso para que os acidentes não aconteçam mais. As minhas palestras levantam valores como respeito, educação e cidadania. Procuro passar a mensagem de que um bom cidadão será sempre um bom condutor”, observa.
Resultados que alegram
O saldo ao longo desses quatro anos é motivador. Com mais de 200 palestras realizadas, Alexandre contabiliza oito mil pessoas impactadas por seus cursos. “Eu sei que não vou conseguir reduzir os índices sozinho, mas estou fazendo a minha parte. Abracei esta causa como um propósito, uma forma de salvar vidas”.
Casado e pai de um adolescente de 14 anos, o palestrante diz que não esperou ter notícias de acidentes com um familiar ou pessoa próxima para ter cuidado com o tema. De tanto buscar o cuidado de pessoas longe da sua realidade, hoje ele garante se sentir ainda mais preparado para dar bom exemplo dentro do seu lar e manter aqueles que ama conscientes e militantes das boas atitudes no trânsito.
“Eu sou motociclista. Levo os ensinamentos de segurança no trânsito para colegas que também utilizam moto, assim como motoristas de carros, ciclistas, passageiros de todos os veículos. Para que tudo isso não se perca, é fundamental que eu dê exemplo. Então tenho muito cuidado no meu dia a dia em casa, com minha família. Coloco o capacete, cobro meu filho, minha mulher, meu pai, que obedeçam as normas. Não basta estar nas escolas, falando das regras de trânsito e a gente não ser exemplo”, argumenta.
Detran
As palestras de Alexandre amadureceram de acordo com a capacitação buscada por meio de capacitações específicas na área. E foi na equipe do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) que ele encontrou aliados incondicionais para prepará-lo e apoiá-lo na realização dos eventos. O educador participou de nove cursos realizados pelo órgão.
“O Detran é meu parceiro desde que me propus a iniciar esse trabalho voluntário. Me sinto muito bem a vontade na Escola de Educação para o Trânsito, pois todos os funcionários me acolheram muito bem, me incluindo em cursos ministrados no setor, campanhas, ajudando na minha capacitação e ajudando muito para que eu leve isso à frente”, declara.
Resistência
A “cabeça dura” de muitos motoristas continua a ser o grande embate de Alexandre. Em suas primeiras palestras em Paramoti, por exemplo, o cearense lembra que chegou a enfrentar represálias de alguns, por acreditarem que a fiscalização havia sido intensificada no Interior após o início do seu trabalho. Mas a relevância de clamar pelo uso do capacete e do cinto de segurança venceu qualquer mau humor ou resistência irresponsável.
“Infelizmente muitas pessoas não utilizam corretamente o capacete, ou simplesmente não o utilizam. Em Interior, acontece a triste realidade de a gente ver passar de cinco pessoas numa motocicleta. São vários desafios para levantar a bandeira da segurança do trânsito e conseguir tocar a consciência das pessoas. Muitas vezes é um embate com a sociedade, para que as pessoas possam ter um pouco mais de respeito com a temática. Hoje, com anos de eventos, temos uma representatividade bem maior e uma aceitação bem melhor do que no início lá no município de Paramoti. Isso me alegra muito”.
Melhor recompensa
A memória resgata sempre o primeiro impulso para falar de segurança no trânsito. Depois de uma missa na Igreja de Paramoti, Alexandre pediu a oportunidade de falar ao microfone para o padre. Alertou aos presentes sobre os perigos no trânsito que cercava os conterrâneos. A partir dali acumulou muitas histórias, emocionou-se com relatos tristes, e acima de tudo celebrou com o compromisso de centenas de pessoas com adoção de nova postura nas ruas.
“Acredito que somos capazes de mudar essa realidade e, através do trânsito, implementar uma cultura de paz. O que mais me traz gratidão nesse tempo que tenho feito as palestras é quando alguém vem me agradecer dizendo que conseguiu evitar acidente usando o capacete ou o cinto de segurança por simplesmente ter escutado as orientações na palestra. Isso faz todos os nossos esforços valerem”.
Maio Amarelo
O Maio Amarelo foi uma resolução definida pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, colocando o período de 2011 a 2020 como a “Década de Ações para a Segurança no Trânsito”. A decisão de dedicar o mês para ações de educação e segurança no trânsito baseou-se em estudo da Organização Mundial da Saúde que contabilizou cerca de 1,3 milhão de mortes por acidente de trânsito em 178 países em 2009.
“Estamos no mês temático da conscientização pela redução de acidentes. O amarelo quer dizer a atenção pela vida no trânsito. Já são cinco anos trabalhando neste propósito. Em 2018, o tema abordado é ‘Nós Somos o Trânsito'”, complementa Alexandre.