Mulheres que se dedicam a cuidar também recebem cuidados especiais
6 de março de 2019 - 17:05 #Cuidadoras #Dia da Mulher #Hospital São José
Hospital São José - Assessoria de Comunicação
Elas chegam tímidas. O cabelo ainda molhado, pois foi corrido deixar tudo organizado em casa, tomar banho e chegar para o compromisso consigo mesmas no Hospital São José. “Quase não dava, mas eu não poderia perder um dia de aconchego”, diz Laura Sousa (nome fictício). Ely Nascimento que chegou mais cedo confirma: “Mulher é assim mesmo. Forte e criativa, a gente acaba dando um jeito em tudo”. “Mas hoje a gente não vai cuidar, vamos ser cuidadas”, responde Regina Célia Ramos, cuidadora e também funcionária da unidade.
A conversa é interrompida. Vai começar a massagem e outras atividades de cuidados para essas mulheres que se dedicam em casa a parentes que fazem parte do Programa de Assistência Domiciliar (PAD) do hospital da rede de saúde do Governo do Ceará. Os encontros com cuidadores de pacientes costumam contar somente com a participação de mulheres. A cada reunião cerca de 20 delas se encontram para conversar e serem orientadas pelos profissionais do Hospital São José.
Saúde de cuidadores
Essas e outras mulheres sabem e sentem que cuidar de uma pessoa com algum tipo de limitação física ou cognitiva exige dedicação, conhecimento sobre a doença e até força muscular para tirar o paciente da cama, trocar fralda ou dar banho no leito, entre outras tarefas. O PAD do Hospital São José, que acompanha o paciente além dos muros do hospital também cuida, por meio de ações com profissionais de várias áreas da saúde, de quem se dedica, muitas vezes exclusivamente, a esses pacientes quando saem da unidade hospitalar para receber a assistência no domicílio.
Receber uma massagem e fazer um alongamento fazem parte de um momento raro e revigorante para Laura. Há sete anos, ela concilia a rotina de casa e do trabalho com os cuidados do cunhado, que vive com HIV. Ele é um dos vinte pacientes assistidos pela equipe do PAD do Hospital São José. “Quando ele recebeu o diagnóstico, a família já não queria ficar com ele. Aí, apareceram algumas sequelas e feridas e os parentes ficaram com medo de pegar a doença. Então, resolvemos trazer e cuidar dele na nossa casa com a orientação da equipe do São José e está indo tudo bem, com jeitinho e com amor”, conta a cozinheira de 34 anos.
Amor. Essa também é uma das justificativas para a rotina de cuidar da funcionária pública Regina Célia Ramos, gerente de contas médicas do hospital. “Eu gosto de cuidar, essa sou eu. Pode ser um parente, um vizinho. Isso me faz feliz”, conta Regina que, além de cuidar de duas irmãs e um irmão com limitações por conta de sequelas de algumas doenças, ainda encontra tempo e disposição para trabalhar entre papéis, cálculos e processos. Ela diz que se sente uma “super mulher” por dedicar tantos cuidados aos familiares. “Teve um tempo que a minha casa parecia um conjunto de várias mini enfermarias. E quando alguém da rua precisava de ajuda era só chamar no meu portão que eu estava pronta para cuidar também”, comemora.
“A própria saúde desses cuidadores é deixada de lado e os momentos de lazer ou atividades são considerados menos importantes ou até abandonados em prol do bem-estar de quem está sob os cuidados”, diz Sílvia Tavares, coordenadora do PAD do Hospital São José.
Por algumas horas, essas “super cuidadoras” deixaram os familiares enfermos com alguém de confiança e foram ser acolhidas, abraçadas e também cuidadas. No encontro de cuidadores do PAD, que acontece regularmente no Hospital São José com vários profissionais da unidade e da Residência Integrada em Saúde (RIS-ESP/CE).
Além de massagem e atividades físicas, são feitos exames, encaminhamentos para procedimentos de prevenção e tratamento, avaliações nutricional e psicológica. Essas ações têm o objetivo de cuidar da saúde física e mental e fortalecer o vínculo com a equipe do hospital, além de qualificar a assistência e empoderar o cuidador, desenvolvendo uma parceria que traz efeitos positivos às famílias, ao hospital e aos pacientes, já que reduz as reinternações. “Embora o cuidador se esmere para fazer o melhor, é fundamental que ele cuide de si. Essa é uma premissa para cuidar do outro. Ele precisa estar bem ou não dará conta”, diz a coordenadora do PAD/HSJ.
No final do encontro, uma pergunta da assistente social. “O que vocês trouxeram e o que vocês levarão para casa?”. Na chegada, foram diversas experiências, contadas com um longo suspiro. Na saída, o suspiro deu lugar a uma boa risada daquelas que misturam gentileza e força.