HGF debate violência contra a mulher com participação de Maria da Penha

18 de julho de 2019 - 14:20 # # # #

Débora Morais - Ascom Sesa

O combate à violência contra a mulher tem um nome: Maria da Penha. Símbolo da resistência feminina, a cearense voltou pela primeira vez ao hospital onde foi atendida após agressões sofridas em maio de 1983, o Hospital Geral de Fortaleza (HGF). A unidade da rede pública do Governo do Ceará realizou o II Seminário do Serviço Social do HGF, que tem como tema a “Violência contra a mulher”. O evento aconteceu nesta quarta-feira, 17, no auditório principal da unidade e contou com cerca de 200 participantes.

Na ocasião, Maria da Penha rememorou os momentos em que lutou para sobreviver e recuperar a saúde. Além disso, a farmacêutica bioquímica falou do principal objetivo da Lei 11.340, que está completando 13 anos em 2019, e foi batizada com o seu nome. A legislação tornou mais rigorosa a punição para agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico e familiar.

“No dia 28 de maio de 1983, eu acordei com um forte estampido dentro do quarto. A primeira coisa que veio na minha cabeça foi: ‘- Meu Deus, o Marco me matou’. Eu não sentia meu corpo, eu não via ninguém. Permaneci com os olhos fechados, fingindo-me de morta, porque tinha medo que ele me desse um segundo tiro, e foi justamente por isso que lutei tanto por justiça. A Lei Maria da Penha veio para proteger a mulher e punir o homem agressor que a usa como qualquer objeto”, relata Penha, que sofria abusos do marido tanto físicos quanto psicológicos.

O neurocirurgião Sérgio Pouchain, que estava de plantão no HGF no dia da tentativa de assassinato, disse que recebeu Maria da Penha no hospital. Ela foi direto para o centro cirúrgico. “Logo quando ela chegou aqui no HGF, vimos que a lesão era grave e que tinha sido na altura do tórax. Com o tiro, tudo foi rompido e a medula foi seccionada (lesão medular), causando a paraplegia dos membros inferiores dela. A cirurgia teve a participação de muita gente e foi das 9h até às 14h. fizemos de tudo, mas naquela época eu fiquei com uma angústia pelo acontecido e por não ter outra forma de ajudar”, lembra o especialista.

Direitos das mulheres

A palestrante contou ainda que, há um longo caminho a ser percorrido para reduzir as mortes por esse tipo de agressão. Para Maria da Penha, a sociedade ainda está se apoderando da Lei e precisa ser mais esclarecida sobre o tema. “Este ano, está fazendo 32 anos que eu fiquei nesta condição. Eu não tive a oportunidade de correr com as minhas filhas, porque eu precisava naquele momento, cuidar de mim. Aliás, até hoje, eu não posso correr para brincar com os meus netos. Foi um direito que meu agressor me tirou. Foram 19 anos e seis meses para que eu conseguisse alguma justiça e foi o que me fortaleceu para continuar lutando pelo direito das mulheres, pois com a Lei Maria da Penha, elas estão perdendo a vergonha de falar”, explica.

Sensibilização

No evento realizado no HGF, profissionais debateram o tema e discutiram como podem contribuir na atenção às vítimas de violência doméstica. A arte colaborou para a abordagem de um tema difícil. Os participantes foram surpreendidos com a apresentação do cordelista Tião Simpatia, onde apresentou o cordel “A Lei Maria da Penha”.

 

O combate à violência contra a mulher é uma luta diária no Brasil, e durante a programação do seminário, foram promovidos momentos de conscientização, reflexão e discussão sobre a situação da mulher no contexto social brasileiro e mundial. De acordo com a chefe do serviço social do HGF, Antônia Lira, o intuito do evento é sensibilizar os profissionais de saúde para a construção uma atenção integral e humanizada às mulheres em situação de violência.

“O serviço social vem mais uma vez trabalhar a garantia dos direitos dos nossos usuários, no caso as mulheres. A violência é crescente e um dos nossos objetivos é mostrar para a mulher que ela tem que ser mais entendida do assunto e ficar atenta. É lamentável que as pessoas não tenham ainda aprendido a respeitar o espaço da mulher na sociedade e na família”, ressaltou a assistente social.

A violência contra a mulher é um problema social que impacta significativamente no cotidiano da vítima, proporcionando repercussões negativas para a saúde e para o emocional da pessoa agredida. Casos constantes podem levar a graves consequências sociais, como o consumo de drogas ilícitas, álcool, suicídio, gravidez indesejada e aborto inseguro.

O enfrentamento às múltiplas formas de violência contra as mulheres é uma importante demanda social. De acordo com o artigo 2º da lei Maria da Penha, “toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

O evento teve a participação de profissionais e gestores da Saúde, além de convidados especiais como Maria da Penha. Quem também participou do seminário e achou enriquecedor, foi a universitária de serviço social, Débora Teixeira, 24.

“É uma oportunidade muito gratificante a gente poder participar de momentos como este. Nós temos que, cada vez mais, buscar lutar pelos nossos direitos sociais e não ficar parada esperando. As mulheres precisam reagir”, expõe a estudante.