Encontro de Mediadores de Leitura promete intercâmbio de conhecimento na XIII Bienal Internacional do Livro
7 de agosto de 2019 - 10:39 #bienal #Ceará #cultura #leitura #literatura #livros
Ascom Secult José Wagner - Foto
Convidados vão debater com o público a importância da literatura no direito do cidadão
Muitas vezes instrumentos de transgressão e de promoção do pensamento, o livro e a leitura são responsáveis por abrir caminhos rumo a novas formas de conhecimento. Pensando nisso, a XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará apresenta, dentro de sua programação, de 16 a 25 de agosto, o II Encontro de Mediadores, voltado à prática da mediação de leitura.
A proposta é dialogar com o público sobre o momento em que obras literárias transcendem os espaços privados de leitura e chegam às ruas com suas reivindicações sociais, além da importância de projetos que fomentam o gosto pela literatura, como as bibliotecas comunitárias, importantes ferramentas de transformação social – assim como as bibliotecas públicas e os centros culturais ou escolares, que mantêm sessões permanentes de mediação de leitura.
O Encontro inicia suas atividades no dia 22/07 (quinta-feira), com a mesa “Caminhos da leitura, desvio à esquerda e depois enfrente”, sobre a importância das bibliotecas comunitárias e dos seus mediadores para os jovens da periferia – muitos dos quais têm nesses espaços seu primeiro contato com os livros.
A curadoria do Encontro ficou a cargo do escritor e jornalista Tino Freitas, que já publicou mais de 20 livros. Contador de histórias e mediador de leitura do projeto Roedores de Livros, no Distrito Federal, em 2011 foi premiado pelo Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) como responsável pelo Melhor Programa de Incentivo à Leitura para Crianças e Jovens.
É com entusiasmo que ele fala do Encontro: “a estreia de um espaço dedicado a discutir a importância da Mediação de Leitura na Bienal do Livro do Ceará deu-se na última edição, em 2017, quando consolidamos uma ideia que se amplia agora em 2019. Nosso objetivo é oferecer programação não só com os artistas da palavra (no sentido de escritores talentosos e midiáticos), mas também com setores que discutem a literatura como vitamina para o fortalecimento do cidadão”, resume Tino.
Para o curador, o Encontro contribui para esclarecer e reforçar o papel cultural da literatura na disseminação do conhecimento. “Acredito que esses diálogos sobre Mediação de Leitura oferecem aos ouvintes a oportunidade de absorver e multiplicar ideias, de se entender como ser participante da construção do seu bairro, da cidade, do mundo. Ao reunir convidados de caminhos diversos, mas cujas atividades têm em comum a amplificação dos direitos do cidadão a partir da leitura, imagino alcançarmos o objetivo de apresentar ao público essa pluralidade de caminhos para, quem sabe, possa ajudá-lo a pavimentar o seu”, resume Tino.
O encontro também vai debater as novas formas de manifestações da literatura, que estão ocupando as ruas como espaços de reivindicação, principalmente por meio de jovens das periferias. Em busca de voz e vez, essa cultura alternativa – de olhar crítico e que busca debater questões sociais – transforma o cotidiano nas ruas. Nesse sentido, a mediação cada vez mais habita novos espaços, aproximando a palavra dos que ainda não a manuseiam com intimidade, mas que percebem na literatura uma força para afirmação de identidade e para a construção de uma cidade menos desigual, mais plural, mais humana.
Confira a programação:
II Encontro de Mediadores: A palavra em forma, informa, reforma. A cidade transforma. Diálogos sobre mediação de leitura
Local: Sala 05 – Mezanino 2
Horário: 15h
Público Alvo: mediadores de leitura (bibliotecas comunitárias, bibliotecas públicas, centros culturais), bibliotecários, professores
Data: 22/07
Mesa 1 – Tema: “Caminhos da Leitura: Desvio à Esquerda e depois Enfrente”
Convidados: Bel Santos (SP) e Bruninho Souza (SP)
Mediação: Alília Gradela (Jangada Literária)
Segundo Monteiro Lobato, “um país se faz com homens e livros”. Durante este novo século, há um movimento que já foi mais silencioso, mas hoje conseguimos ouvir seus rumores nas veias urbanas, apesar de alguns obstáculos aqui e ali. Parte desse movimento deve-se às bibliotecas comunitárias, que têm nascido “no meio do caminho” dos leitores, ocupando com livros e diálogos, espaços na periferia, transformando a comunidade local, com o auxílio de mediadores de leitura.
Assim é com a Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura, localizada no cemitério, em Parelheiros (SP). A mesa propõe apresentar as histórias, os desafios, as conquistas de quem participa da construção da cidadania naquele lugar, transformando, na prática, um dos Dez Direitos do Leitor, descritos por Daniel Pennac: o direito de ler em qualquer lugar. É esse direito de igualdade que o poeta Sérgio Vaz evoca quando escreve: “Dizem que quando a gente morre / vai todo mundo para o mesmo lugar… / Devia ser quando nasce.”
Data: 23/08
Mesa 2 – Tema: Poesia na contramão: As ruas na voz ou a voz nas ruas
Convidados: Rômulo Silva(CE) e Nina Rizzi (CE)
Mediação: Tino Freitas
Muitos movimentos populares apresentaram suas vozes nas manifestações que tomaram as ruas de muitas cidades brasileiras em 2013. De lá para cá mais vozes foram ouvidas. A Literatura também foi às ruas. E nas ruas segue viva em eventos como saraus, batalhas de slam (competição de poesias faladas), produções literárias artesanais, mas não só. A poesia tem ocupado espaços antes silenciosos, dando voz e força a tantos que até pouco tempo não conseguiam se fazer ouvidos. Seja pelas novas tecnologias, seja pelo caráter transgressor e marginal (por estar à margem) que a poesia também carrega, é visível um movimento cultural que se movimenta na contramão do “establishment (ordem ideológica, política e social de um país) ” discutindo questões sociais urgentes como gênero, raça, educação, saúde e segurança.
Essa mesa propõe um diálogo sobre como essas vozes poéticas transitam e transformam o cotidiano das ruas das cidades, seja na contramão ou não, seja encontrando essas mesmas vozes nas ruas (como leitores) ou encontrando as ruas nas vozes (como autores). Na apresentação do livro “Te Pego Lá Fora”, de Rodrigo Ciríaco (DSOP), o poeta Ferréz diz que “a nova geração foi chegando, e assim como tem a caneta como ferramenta, faz da palavra outra arma de luta para a melhoria não individual somente, mas também do coletivo”.
Data: 24/08
Mesa 3 – Tema: Atenção no Percurso: Estamos em Obras
Convidados: Bel Santos (SP) e Amara Moira (SP)
Mediação: Argentina Castro
“Tenho 30 anos, mas sou negra há apenas 10”, afirma Bianca Santana em seu livro Quando me descobri negra (SESI-SP) . Pois, foi recentemente que a mídia divulgou com estardalhaço uma imagem colorida artificialmente, em que muitos perceberam pela primeira vez que o maior escritor brasileiro de todos os tempos, Machado de Assis, era negro. Sua imagem foi embranquecida durante anos, pelo branco do preto e branco. É fato que um dos ofícios do escritor é alcançar, por meio da sua arte, lugares desconhecidos, onde ninguém foi. Perceber o mundo de um jeito singular e apresentar isso aos leitores.
Nessa mesa, buscamos, através de uma autora e uma mediadora de leitura, debater a importância de encontrarmos em obras da literatura brasileira textos que representem (tanto pelo texto como pela origem de quem o escreveu) o tamanho da nossa diversidade e as ações possíveis para que essa literatura ganhe mais autores e leitores. Voltando à Bianca Santana, “…ainda em busca de identidade, afirmo com alegria que sou negra há 10 anos. E agradeço ao professor do Educafro que, pela primeira vez, fez o convite para a reflexão profunda sobre minhas origens”. Portanto, atenção, leitores: estamos em obras!!! Leiam! Descubram-se. Descubram-nos.
Data: 25/08 (domingo)
Mesa 4 – Tema: Em Caso de Emergência, abra o livro. Cuidado! O mundo pode mudar!
Abertura cultural: Fabiano Piúba
Convidados: Bruninho Souza, Régis Oliveira e Douglas Girão
Mediação: Anita Moura/Livro Livre (CE)
O que é esse objeto livro? Esse bicho cheio de letras que engole o tempo da gente. O que é? Que história é essa de que a literatura transforma o leitor em alguém mais cidadão, mais ciente de si e dos seus direitos? Será possível? Para encerrar esse conjunto de mesas sobre mediação de leituras, nossos convidados falarão das experiências transformadoras que o contato com a literatura promoveu em suas vidas. E como, para eles, a cidade, o mundo, mudou a partir desse contato com os livros.
Sobre os convidados
Bel Santos Meyer: É educadora social, mestranda em Lazer e Turismo (EACH/USP), Bacharel em Turismo (Universidade Anhembi/Morumbi), licenciada em Ciências Matemáticas (Universidade São Judas Tadeu) e tem especialização em Pedagogia Social (Universitá Salesiana Di Roma). Desde 1988 atua em organizações não governamentais e facilita processos de criação de Bibliotecas Comunitárias gerenciadas por adolescentes e jovens. É empreendedora social da Ashoka (2004). Coordena o Programa de Direitos Humanos do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário – IBEAC desde 1997 sendo responsável pela elaboração e coordenação de projetos de formação em Diversidade, Direitos Humanos, Relações de Raça e Gênero e Direitos de Crianças e Adolescentes.
Bruninho Souza: Atua na área social na região de Parelheiros e Jardim Ângela, em São Paulo. O estudante de Pedagogia possui formação em direitos humanos pelo o Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (IBEAC) e também integra o projeto Jovens Transformadores pela Democracia da Ashoka, trabalha junto aos jovens para promover o sentimento de protagonismo e liderança. Na Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura, onde atua, tem como objetivo promover o acesso à leitura literária por meio de ações que incentivem a formação crítica dos leitores, utilizando diversas formas de linguagens sociais e culturais.
Amara Moira: É travesti, feminista, doutora em teoria e crítica literária pela Unicamp (com tese sobre o “Ulysses” de James Joyce) e autora do livro autobiográfico “E se eu fosse puta” (hoo editora, 2016). Além disso, é colunista da Mídia Ninja, professora de literatura no cursinho pré-vestibular “Descomplica” e tem publicado artigos de crítica literária feminista e sobre literatura trans.
Rômulo Silva: Morador do bairro Pantanal, em Fortaleza, é mestre em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual do Ceará (PPGS-UECE) e Bacharel em Comunicação Social, Jornalismo pela Estácio FIC. Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e integrante do Núcleo de Estudos sobre Conflitualidade e Violência (COVIO) da UECE. Trabalhou como Educador Social no CUCA Jangurussu, como Professor no Centro Cultural do Grande Bom Jardim (CCGBJ) e no Porto Iracema das Artes (Dragão do Mar), foi um dos diretores da ONG Zinco – Centro de Estudo, Produção e Documentação em Mídia Alternativa e escreve a zine “Máquina de Escrever”.
Nina Rizzi: Escritora, tradutora, pesquisadora, professora e editora; promove Laboratórios de Escrita Criativa para Mulheres e participa de saraus em Fortaleza. Autora de tambores pra n’zinga; A duração do deserto; geografia dos ossos; quando vieres ver um banz cor de fogo e sereia no copo d’água. Traduziu entre outros autores, Alejandra Pizarnik, Susana Thénon, Rosário Castellanos, Clorinda Matto de Turner, Elizabeth Bishop, Nina Simone, bell books, Vicente Huidobro, Enrique Serna e Richard Blanco.
Régis Oliveira: Estudante de escolas públicas durante sua educação básica, considera-se conhecedor das realidades cruéis demais para serem esquecidas rapidamente, que é a classe dos desprivilegiados, e periféricos. Pensador e futuro escritor e neurocientista, atualmente é graduando em Psicologia. Assim como seu irmão, Douglas Poetizo, teve amplificado sua relação com a leitura a partir de um projeto inclusivo, em Pacajus (CE). Ativista político, esquerdista na luta pelos direitos dos estudantes e professores, contra o preconceito, homofobia, violência e quaisquer outros modos de desconstrução de ser e estar no mundo.
Douglas Poetizo: Jovem poeta cearense é também romancista autodidata, atualmente produzindo sua primeira obra literária. Filho de pais analfabetos (Seu José e Dona Maria) traz como destaque em sua arte a lírica poética de resistência e ativismo social. Gosta de destacar que “o direito à voz na política social é para todos, a discriminação e o Apartheid de gênero são um caos nítido. Somente a leitura é capaz de reconstruir uma sociedade estéril de amor ao próximo.”
Annita Moura: É a idealizadora do Livro Livre Ceará, movimento de incentivo à leitura responsável pela criação e manutenção de diversos pontos de compartilhamento de livros em Fortaleza. Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em Gestão de Marketing (FBUni). Em 2018 participou da formação inicial de uma pequena rede de bibliotecas comunitárias livres: duas em Fortaleza, nos bairros Curió e Bom Jardim, e uma em Caucaia, no Parque Potira 2.
Serviço
XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará
16 a 25 de agosto, de 10h às 22h
Centro de Eventos do Ceará
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