Laboratório do Centec oferece análise da qualidade do leite a baixo custo para produtores do Sertão Central
26 de agosto de 2019 - 11:59 #fatec #LAQleite #Nutec #pecuária leiteira #Quixeramobim
André Victor Rodrigues Texto
Davi Pinheiro Fotos
Localizado em Quixeramobim, o LAQleite oferece à bovinocultura da região a estrutura necessária para estar em dias com o controle de qualidade do leite
A pecuária leiteira é a principal atividade econômica desenvolvida em Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará. O município se destaca como maior produtor de leite no estado, com mais de 90 mil cabeças (entre bezerros, garrotas, novilhas, vacas secas e vacas em lactação) e a média de 151,6 mil litros por dia. A produção garante emprego e renda para a população envolvida direta ou indiretamente. Com o objetivo de assegurar mais estrutura ao cotidiano dos bovinocultores, que precisam atender aos padrões nacionais de qualidade dos produtos, o Instituto Centro do Ensino Tecnológico (Centec) criou laboratório na região para análise da qualidade do leite de pequenos produtores e indústrias locais: o Laboratório de Qualidade do Leite (LAQleite). Os serviços são oferecidos a baixo custo e têm gerado impacto positivo no setor rural.
O equipamento do Governo do Ceará funciona em Quixeramobim desde dezembro de 2018, dentro do Eixo Tecnológico de Produção Alimentícia da Faculdade Tecnológica Centec (Fatec). Antes de sua implantação, as análises laboratoriais para atestar a qualidade e higiene do leite só eram possíveis se amostras fossem enviadas para uma empresa de fora do Ceará. Hoje, por meio do trabalho desempenhado no Laqleite, os produtores dispõem de acesso a todas as avaliações acerca da qualidade do leite, como os índices de gordura, proteínas, lactose, contagem de células somáticas (CCS), dentre outros, além de adequar a alimentação dos animais para fins de melhorar a coleta com maior agilidade.
O LAQleite conta com a parceria da Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec) para o seu pleno funcionamento. Nos primeiros seis meses de atividades, o laboratório realizou 162 análises em 102 amostras, uma média de 27 análises por mês e o recebimento de 17 amostras mensais. A tabela de valores cobrados por análise varia de menos de R$ 1 até pouco acima dos R$ 20 (pode ser acessada no site.
Processo de análise do leite
As amostras de leite recebidas pelos profissionais do laboratório passam por um processo de cadastro e posterior coleta de várias informações, como o horário e o modo de execução da ordenha, temperatura e dados acerca da origem do leite. Após série criteriosa de avaliações, os dados do produto analisado são protocolados em documentos com todos os detalhes laboratoriais e resultados para os clientes.
“Após realizadas todas essas análises, mediante a solicitação por parte do produtor, é gerado um laudo, onde esse laudo a gente colocou essas informações do padrão exigido pela legislação de uma forma que o produtor consiga ver quais são esses limites e que se esses resultados das análises estão de acordo com o estabelecido por lei”, explica Cláudio Gonçalves, professor de Produção Alimentícia da Fatec e responsável pelo LAQleite.
Cláudio detalha que o laboratório realiza a análise de amostras para checar se elas estão de acordo com as novas regras fixadas em 2018 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “São expostos resultados das análises, tanto de resultados de qualidade do leite, desde a presença de alguns inibidores, e também a análise da composição, onde temos aí gorduras, lipídios, todos esses resultados referentes à composição do leite, e a análise microbiológica, conhecida hoje por CPP (contagem padrão em placa), onde a gente consegue identificar a quantidade de microrganismos por ml de amostra de leite, e assim a gente consegue identificar se essas amostras estão seguras para o consumidor”.
O professor destaca ainda que as análises solicitadas beneficiam toda uma cadeia que parte dos produtores e indústrias de leite na região do Sertão Central. “A gente consegue atender tanto pequenos produtores como indústrias. Esses resultados podem ser utilizados para ajustes internos dentro do processo de produção e também a qualidade o trabalho dos produtores que vendem para as indústrias.”
Segurança para os negócios
A empresária Raquel Barcelos é uma das proprietárias do empreendimento Sabores da Fazenda, que fabrica produtos derivados do leite no município de Quixeramobim. Queijo coalho, queijos temperados com ingredientes variados, coalhada e cremes de ricota estão entre as principais vendas da pequena produtora. Como clientes, o negócio tem cinco mercantis do município de Quixeramobim, além de um distribuidor em Fortaleza. Para garantir a fabricação dos alimentos o ritmo ideal, dentro de uma média de 300 litros de leite por dia, Raquel é testemunha do enorme benefício de poder contar com o laboratório do Centec.
“A gente precisa ter essa segurança de uma matéria-prima que passa por análise e tem qualidade certificada. Todo pequeno produtor teria que fazer um investimento muito grande no laboratório, pois a gente precisa comprovar a qualidade do leite. O produto final vai depender da qualidade da matéria-prima. Seria inviável a gente investir num laboratório como o do LAQleite e ter os profissionais qualificados que a LAQleite tem, então foi de suma importância para nós utilizar desse serviço”, conta.
A Sabores da Fazenda dispõe de uma fazenda para garantir a produção leiteira. Porém, às vezes precisa recorrer a produções externas para complementar e preencher a demanda de leite exigida. “Em toda a fazenda existe o problema de que hoje eu posso ter tantos litros de leite, mas amanhã pode ser diferente, pois as vacas apartam, dão cria. Isso faz com que a nossa produção fique muito instável, por isso muitas vezes precisamos recorrer a uma produção externa. E para isso, ainda mais é que precisamos de um laboratório”, complementa Raquel Barcelos.
Auxílio aos criadores
O cuidado científico e tecnológico sobre a produção diária da bovinocultura do Sertão Central também traz mais capacitação aos criadores. Com as constantes avaliações e orientações de especialistas do laboratório, os trabalhadores que diariamente estão em contato com o gado aprendem a como ter cuidados na higienização e no tratamento dos animais que influenciam numa melhor ordenha.
Um desses casos é o de Lourival Oliveira. Natural de Quixeramobim, ele sempre trabalhou no campo. Nos últimos anos, se dedicou especificamente ao cuidado do gado que fica na própria área da Fatec. “Eu fico por aqui, com o gado fica solto no cercado. Vou ordenhar pela manhã. Temos todo o cuidado com a alimentação e a higiene necessários. Toda vez antes de fazer a ordenha, você precisa fazer a limpeza necessária, com o produto e enxugar com papel toalha”, vai explicando enquanto arruma o espaço para retirada do leite.
Para Lourival, o trabalho do LAQLeite é bom porque dá suporte para a população que vive do leite. “Devido ao muito tempo que eu tenho aqui, muita coisa eu aprendi vendo os alunos e os professores daqui da faculdade. Ensinando a como tirar o leite para fazer análise, o que é preciso tomar cuidado, o que a gente deve fazer no cuidado da vaca, um monte de coisa.”
Sobre a Fatec
A Faculdade de Tecnologia Centec funciona há 11 anos em Quixeramobim. O equipamento oferece cursos superiores de Tecnologia de Alimentos e Gestão do Agronegócio, além do curso técnico de Técnico em Panificação. O processo seletivo para novos alunos é feito semestralmente, com divulgação de edital.
Coordenadora do Eixo de Produção Alimentícia, Natália Duarte explica que a faculdade tem se solidificado com o um espaço aberto a pesquisas e projetos científicos e tecnológicos, trazendo mais capacitação e desenvolvimento para as atividades do setor na região do Sertão Central. “O nosso principal objetivo é trazer inovações e formas para que as indústrias locais e pequenos produtores possam ganhar dinheiro explorando a sua matéria-prima e as transformando em produtos de qualidade”, afirma.