Arteterapia auxilia o tratamento de pacientes com transtornos
26 de novembro de 2019 - 16:01 #arte #SaúdeMental #tratamento
Milena Fernandes - Ascom HSM
Pelos corredores do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), do Governo do Ceará, obras de arte podem ser encontradas em diversos cantos. São telas e pinturas produzidas por pacientes que já passaram pelo hospital. Um dos mais conhecidos é o artista plástico Raimundo Mateus de Oliveira, 76, internado há oito anos, quando foi diagnosticado com depressão.
Mateus, como é mais conhecido, é artista plástico desde os 14 anos. Foi aluno do pintor suíço Jean-Pierre Chabloz na década de 1960, participou de exposições nacionais e foi premiado no Rio de Janeiro. As obras de Mateus, reunidas no ateliê que mantém dentro de casa no bairro Messejana, seguem a escola expressionista. Com tintas acrílicas sobre as telas, o artista resgata tradições e costumes. “Me inspiro muito nos pintores Paul Cézanne e Cândido Portinari. Gosto de retratar as brincadeiras de bila, a ciranda, as crianças, o sertão e o litoral cearense”, conta.
No período em que esteve internado no HSM, Mateus também deixou sua marca nas paredes do corredor. “A arte foi fundamental para minha recuperação e durante o período em que estive internado fui incentivado pelos profissionais do hospital a não desistir, tive bastante reconhecimento de todos que me atendiam e isso me fortaleceu”, conta emocionado e faz questão de deixar uma mensagem para quem sofre com os problemas emocionais: “das lições que venho tirando da vida, uma das mais importantes é o hábito de perdoar. Mesmo que eu tenha razão, peço desculpas diante de uma situação de conflito. Me coloco no lugar do outro, não guardo mágoa”, revela.
No centro de atendimento de terapia ocupacional e fisioterapia, os pacientes com transtornos mentais, internados na unidade, são motivados a participar das mais variadas atividades artísticas oferecidas semanalmente. A terapeuta ocupacional, Sílvia Jatahy, observa que a arte é um recurso terapêutico expressivo e ajuda significativamente na prevenção e tratamento desses pacientes, contribuindo para uma melhor recuperação. “Nós dividimos os pacientes em grupos e vamos percebendo quais as atividades que os deixam mais motivados”, explica.
As atividades são realizadas através de recursos terapêuticos que ajudam o paciente durante o processo de desenvolvimento, oferecendo oportunidades de expressar suas fantasias e, ao mesmo tempo, liberar conteúdos reprimidos por intermédio da expressão verbal ou não verbal. Essas atividades possuem como maior suporte, a arte expressiva, a exemplo da modelagem em argila, gesso, pinturas diversificadas livres ou direcionadas.
A terapeuta enfatiza que a arte no hospital atua como uma ferramenta fundamental, pois ajuda os portadores de distúrbios mentais. “A atividade é um fator relevante e significativo no tratamento do paciente, pois promove um sentimento de sentido e existência no meio em que está inserido. Contribuindo desta maneira com o resgate da autoestima, conscientizando sobre o seu potencial criativo, redescobrindo habilidades, estimulando o autoconhecimento e favorecendo relações inter e intrapessoais”.
No HSM, a arte também faz parte da rotina do Hospital Dia Lugar de Vida, onde os pacientes que não estão internados realizam tratamento para controle da doença, com ajuda de diversos profissionais. A enfermeira e gestora da unidade, Sâmia Cavalcanti, ressalta que na pintura livre é possível perceber a expressão dos sentimentos, sonhos e uma visão geral de como cada um enxerga o mundo. “A arteterapia permite ao indivíduo o conhecer a si mesmo, aprimorando partes diferentes do seu ser, do seu corpo e da sua mente. Como abordagem terapêutica, permite vivências criativas, de momentos de fala, de expressão de sentimentos, tendo como desfecho a ampliação de sua autonomia”, conclui.