Pandemia evidencia e expõe a desigualdade social no Brasil e no mundo
22 de abril de 2020 - 10:47 #consórcio nordeste #coronavírus #Covid-19 #isolamento social #Pandemia #Secitece #videoconferência
Ascom Secitece Texto e Fotos
O grande desafio é a dispersão do coronavírus em áreas mais adensadas, onde o isolamento social é muito difícil de ser realizado
Em videoconferência sobre o tema “Pademia, Demografia e Desigualdade Social”, a doutora em demografia e professora de Harvard, Márcia Castro, defendeu o distanciamento físico no combate ao Covid-19 e apresentou um panorama da evolução do vírus no Ceará e sua relação com os indicadores sociais do Estado. Ela alertou para as dificuldades que regiões de extrema vulnerabilidade social têm para seguir as recomendações da OMS, afirmando que o “Corona não discrimina por raça, nem renda, mas evidencia e expõe as desigualdades que temos no Brasil e no mundo”.
A videoconferência, promovida pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece), foi coordenada pelo secretário da Secitece, Inácio Arruda, contando com a participação do médico, pesquisador e professor de Medicina da Unifor, Antônio Silva Lima Neto, integrante do comitê científico que auxilia os nove governadores do Consórcio Nordeste na tomada de decisões no combate à pandemia de Covid-19, e a doutora em sociologia, professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e coordenadora do grupo de pesquisa Observatório das Nacionalidades, Mônica Martins.
Em sua fala, a doutora Márcia Castro destacou a dificuldade de fazer o distanciamento social em bairros pobres, onde as pessoas não têm os recursos necessários para se proteger, como a falta de água potável. E alertou para a confusão entre as instâncias governamentais brasileiras quanto à defesa do isolamento social e como isso prejudica a comunicação entre os mais pobres e vulneráveis.
Marcia Castro destacou ainda a dimensão global do coronavírus e apresentou os números que assolam o mundo. Ao todo são mais de 2,5 milhões de casos, espalhados em aproximadamente 135 países, com mais de 170 mil mortes. Para a pesquisadora, há uma subestimação desses números relacionada a atrasos nas notificações, casos não reportados e ao baixo número de testagens. “Até o dia 16/04, o Brasil testou 470 mil pessoas, estamos muito abaixo quando comparados a outros países”, afirmou.
Maior número de óbitos nos bairros de IDH baixo
O médico Antônio da Silva Lima Neto (Tanta), integrante do Consorcio Nordeste, explicou que no inicio os bairros centrais (Meireles, Aldeota) de alto Índice de Desenvolvimento Humano – IDH registraram um maior número de casos. Hoje a transmissão viral está na cidade inteira. ”O nosso grande desafio é a dispersão do vírus para áreas adensadas, onde o isolamento social é muito difícil”, disse. Ele informou que apesar do maior número de casos da Covid-19 se encontrar em bairros do IDH alto, a maioria dos óbitos está no cinturão de pobreza.
Preconceito e humilhação
A professora Mônica Martins (UECE) fez uma reflexão sobre a pandemia no Brasil, um dos países mais desigual do mundo. Ressaltou a falta de estrutura e as condições precárias de vida e de trabalho da população mais humilde, que sofre preconceito e humilhação. “Essas pessoas são relegadas ao trabalho subalterno, violentadas em seus direitos. A população de rua é invisível. O sistema é perverso e injusto”, afirmou, acrescentando “que hoje, em meio a tantas incertezas, uma única certeza: enquanto permanecer esse padrão de desigualdade social, são os trabalhadores que vão sucumbir a Covid-19”.