Com serviço de cuidados paliativos, HSJ proporciona qualidade de vida a pacientes
15 de setembro de 2020 - 18:02 #cuidadospaliativos #Humanização #saúde
Renato Abê - Ascom HSJ Texto e foto
Kamile Façanha Arte gráfica
A fotógrafa e produtora cultural Socorro Leite, 45, guarda, com muita emoção, os momentos vividos durante internação do pai, Abílio, em agosto deste ano. “Eu não me senti em nenhum momento desassistida no São José. Eu tive um suporte muito importante”, conta, ressaltando a relação construída com a equipe do Serviço Especializado de Cuidados Paliativos do Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), do Governo do Estado. O pai de Socorro tinha 82 anos e convivia com o Alzheimer há uma década. No fim de julho, ele foi diagnosticado com pneumonia, o que agravou o quadro de saúde. “Eu desconhecia os cuidados paliativos e, quando descobri, fiquei encantada. É um suporte imenso tanto para o paciente quanto para a família”, aponta.
A equipe que encantou Socorro é multiprofissional. Reúne médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e nutricionistas. Todos formando uma rede que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares diante de uma enfermidade que ameace a vida. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o cuidado paliativo deve acontecer através da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor.
Devido à pandemia de Covid-19, todo o processo da equipe se tornou mais complexo. “Tudo ter acontecido no meio da pandemia mexeu muito com todos nós da família. Meu pai era uma pessoa muito querida e, por mais que o hospital tenha flexibilizado visitas, minha mãe não pode ir, nem os outros amigos dele que são idosos”, conta Socorro, cuja família precisou ter todas as precauções mesmo o pai tendo testado negativo para o novo coronavírus.
Uma das profissionais que cuidou de Seu Abílio, a enfermeira Renata Maia sabe que, além da luta para controlar os sintomas de um paciente, o serviço que realiza enfrenta outro percalço: o estigma. “É muito comum a sociedade ter o pensamento de que cuidado paliativo é você não fazer mais nada. A gente escuta muito isso, mas é o contrário, a gente tem muito o que fazer. Sempre tem muito o que fazer”, destaca. A profissional é uma das quatro enfermeiras dedicadas a esse atendimento no Hospital São José, que há dois anos tem o serviço especializado. Em 2018, o Ministério da Saúde publicou uma resolução que normatiza a oferta de cuidados paliativos como parte dos cuidados continuados integrados de todas as unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
“A gente coleta todas as informações do paciente, não só no que diz respeito à questão da doença, mas também coletamos a biografia, que é a peça-chave para o nosso trabalho”, afirma Renata. Ela detalha: “Além das questões socioeconômicas, a gente procura saber a comida preferida, qual música gosta de ouvir, o que gosta de fazer quando está em casa, também pergunta se o paciente tem alguma religião, qual a conexão dessa pessoa com o sagrado”. Munidos das informações, os profissionais podem pensar estratégias para oferecer alívio. “Dependendo do caso, a gente coloca até a música preferida aqui no bolso da roupa no momento do cuidado. Isso ajuda muito”, exemplifica. Equilibrando princípios e protocolos, a equipe leva em consideração muitos itens, sempre buscando qualidade de vida.
O serviço se estrutura em conjunto com o Ambulatório de Perdas e Luto do HSJ, importante ferramenta para ressignificar dores. “O cuidado paliativo previne e avalia o sofrimento através de uma identificação precoce que é feita nas dimensões física, psíquica, social e espiritual. As pessoas se sentem amadas e valorizadas em seus sofrimentos, pois o paciente é visto de forma integral. Esse serviço foi um dos maiores ganhos para o hospital, pois podemos dizer que o cuidado é feito de uma forma total”, certifica Simone Lima, psicóloga da unidade. “Quanto o ente querido morre, os familiares também ficam sendo assistidos e, com a Covid-19, esse cuidado acabou se expandindo”, pontua.
Desafio na pandemia
Há quatro meses trabalhando no HSJ, a enfermeira Mariana Maia viveu a experiência de iniciar no Serviço Especializado de Cuidados Paliativos já durante a pandemia. No momento mais agudo, a profissional aponta que o principal desafio foi a comunicação entre pacientes e parentes. “Foi muito difícil. Muitas vezes, os familiares pediam para a gente gravar vídeo, áudio, tudo numa maneira de tentar estabelecer esse vínculo com a família, que não podia visitar o paciente. A gente fazia sempre para tentar amenizar esse sofrimento”, afirma, destacando que a única notícia que alguns parentes tinham vinham do parecer médico, que incluía ligações diárias para fornecer um relatório.
“O Hospital São José me transformou como profissional, me trouxe um olhar mais humano, eu soube lidar com as minha emoções. Em quatro meses de trabalho, eu mudei o que não tinha mudado em dois anos de formada”, avalia, evidenciando que o ambiente interno da equipe também é fundamental para o bom andamento das atividades. “A psicóloga não cuida só dos pacientes, cuida da gente também. Na nossa reunião semanal de equipe, podemos mostrar nossos sentimentos e trocar informações”, conta.