HSJ avança em pesquisa com medicação contra HIV para tratar Covid-19
15 de outubro de 2020 - 11:28 #antirretrovirais #HIV/Aids #Hospital São José #HSJ #medicação #Sesa
Renato Abê - Texto
Tatiana Fortes - Foto
O Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), do Governo do Estado, integra pesquisa de abrangência nacional que vem apresentando resultados positivos com o uso de medicação para tratar HIV/Aids em pacientes com Covid-19. Aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), o estudo inicia fase de recrutamento de pacientes com coronavírus em atendimento no HSJ. O protocolo é realizado em parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), da rede estadual, a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (USP).
“A pesquisa envolve dois antirretrovirais que têm efeito aditivo não só contra o vírus do HIV, mas também contra o Sars-Cov-2. Essa perspectiva foi encontrada em estudo in vitro na USP e, depois desse dado, iniciamos o processo para fazer a pesquisa clínica de validação”, detalha Aldo Ângelo Lima, professor da UFC e membro da Academia Brasileira de Ciências. Um dos médicos que encabeça o estudo, Aldo explica que a atual fase do protocolo vai acompanhar cerca de 240 pacientes do HSJ que tenham testado positivo para Covid-19 e apresentem sintomas leves e moderados.
“Aqui no Hospital São José temos um campo de aplicação com pacientes de Covid-19 e também muita experiência em lidar com antirretroviral. Nós temos janela para poder comentar, discutir, saber dos eventos adversos possíveis, saber sobre o tempo de tratamento e avaliar quais exames a gente deve fazer no contexto de monitorizar o paciente”, contextualiza Érico Arruda, infectologista do Hospital São José. “Temos um Know-how com isso, conhecemos o medicamento e já administramos para várias pessoas. Isso traz o HSJ para essa ponta de lança”.
Érico explica que o protocolo tem conquistado reconhecimento e conseguido avançar para novas etapas. “Nós dependíamos da chegada dos medicamentos doados pelo Ministério da Saúde e, compreendendo a importância da pesquisa e a qualidade do grupo montado para tocar o ensaio, a medicação já foi enviada”, aponta. O médico ressalta a relação que a unidade hospitalar vem construindo, ao longo dos anos, com profissionais da saúde Brasil afora – a exemplo do virologista Eurico Arruda, da USP, que fez a ponte entre a universidade e o HSJ.
“Vivemos um período de muitos desafios, mas também um momento de transladar todo o perfil de conhecimento científico. No meio dessa pandemia, estamos num momento de muita sinergia entre as universidades, o Hospital São José e a Sesa. Todos numa ação para dar respostas à sociedade”, analisa o professor Aldo Ângelo Lima. “O objetivo maior da intervenção clínica é bloquear a evolução do vírus. A gente está muito ansioso e animado para fazer essa validação. Precisamos de um fármaco com atividade antiviral específica para o coronavírus. Só a vacina não vai resolver, precisamos de um fármaco que possa controlar de forma mais eficiente e diminuir um pouco esse terror com a pandemia”, complementa.
50 anos de mãos dadas com ciência
Ao longo de cinco décadas desde a fundação, o Hospital São José vem consolidando uma relação permanente com as instituições acadêmicas. “O Hospital São José tem um histórico de parceria com a Universidade Federal do Ceará e mesmo com outras instituições de pesquisa nacionais no cenário da pesquisa no contexto das infecções. Já participamos de protocolos internacionais da terapia antirretroviral, de doenças fúngicas, entre muitos outros”, aponta o infectologista Érico Arruda.
O médico do HSJ destaca que essa relação com a ciência está no DNA da unidade. “O Hospital São José tem como motivo de existir o cuidado, mas também temos os lados do ensino e da pesquisa. Ao mesmo tempo que nós estamos cuidando das pessoas, estamos também procurando sempre as melhores alternativas. O HSJ está tentando contribuir para o estado do Ceará, para o Brasil, para o mundo”, completa Érico. O médico projeta: “Se esses medicamentos antirretrovirais forem realmente efetivos para Covid-19, nós vamos ter uma saída barata, já disponível e com profissionais do mundo todo com experiência nesse tratamento”.