Aos 16 anos, estudante aprovada em Biologia já faz planos para mestrado e doutorado

7 de fevereiro de 2020 - 15:35 # # # #

Bruno Mota - Ascom Seduc

Por muitas vezes, Ana Vitória Santos ouviu de colegas comentários dizendo que ela “era a mais nova da turma e também a mais madura”. Não à toa, aos 16 anos ingressa no Ensino Superior e já se prepara para mudar de cidade, encarando as responsabilidades de morar longe da família, trocando a rotina pacata do povoado natal pelos hábitos agitados da capital. A jovem, natural da localidade de Prainha do Canto Verde, no município de Beberibe, foi aprovada em Biologia na Universidade Federal do Ceará (UFC), após ter feito o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2019. Os três anos finais da educação básica foram cursados na Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Pedro de Queiroz Lima, onde teve formação técnica em Edificações.

Conhecer sobre o funcionamento da natureza, as relações entre os seres vivos e as formas de convivência do homem com os animais e plantas foi algo que desde cedo despertou o interesse da jovem. A escolha da faculdade, portanto, foi motivada por estreita afinidade com a área. As aulas de Biologia na escola foram responsáveis por despertar paixão pelo assunto. “Sempre me encantei com o fato de estudar sobre a vida”, ressalta.

Além disso, a comunidade em que Ana Vitória nasceu e vive está dentro de uma reserva extrativista constantemente visitada por pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A vivência neste cenário tornou a temática ainda mais familiar à estudante.

“A maior parte da equipe do Instituto é de biólogos. Acho esplêndido o trabalho que eles fazem. Observam questões de saúde, educação, procuram criar uma geração com consciência ambiental mais forte. Orientam sobre a preservação da comunidade, promovem mutirões de limpeza da praia, fazem acompanhamento do mar e diversidade biológica. Sempre achei isso muito interessante”, observa.

Outro olhar

Ana Vitória perdeu a mãe aos dois anos. Quando criança, ela conta, demorou a entender o que havia acontecido, mas à medida que crescia passou a sentir falta da presença materna. “Mesmo tendo pai e madrasta, o aconchego de mãe é diferente. Mas, sempre tentei ver as coisas pelo lado bom, tirando proveito da situação, por mais difícil que fosse. De certa maneira, fui criada de forma mais aberta, por não ter tido tanta proteção. Não podemos nos abalar pelas coisas que acontecem, e sim, contorná-las. A vida é assim. Cabe a nós aprendermos a conviver com isso e sermos felizes. E sou muito grata à toda a minha família, que esteve comigo sempre que precisei”, revela.

A construção da própria personalidade também foi influenciada, segundo a estudante, pela participação na vida social da comunidade. “Comecei a perder o medo de me apresentar em público pela presença nos movimentos populares. Hoje em dia, muitos jovens não se preocupam com o bem do próximo e se fecham muito no eu. Isso não é bom, pois atrapalha no aprendizado do respeito às opiniões, assim como do trabalho em equipe. É importante cultivarmos princípios de sociedade, convivendo com o diferente”, aborda.

Novos rumos

Ana Vitória ressalta que sempre fez projetos para dar continuidade aos estudos após sair da escola. O primeiro passo, agora, será a graduação na faculdade. Mas ela adianta que pretende perseguir a obtenção de mestrado e doutorado. “Conhecimento nunca é demais. Não só por facilitar a conquista de um emprego, mas porque é importante conhecer o mundo, abrir a visão. Sei que a universidade me proporcionará isso, assim como a minha escola já começou a fazer”, idealiza.

Base

A jovem admite que desde o sexto ano do Ensino Fundamental fazia planos de estudar na EEEP Pedro de Queiroz Lima. E quando lá esteve, as expectativas foram atendidas. “Tudo funcionava muito bem, a estrutura era boa, havia abertura dos gestores e professores, todos bastante atenciosos. Contei com a ajuda de professores maravilhosos tanto da base comum como da técnica, que nunca me negaram tempo para explicar questões ou tirar dúvidas, além das conversas valorosas sobre os planos futuros com o coordenador ou o diretor. A rotina era puxada, muitos compromissos, trabalhos e provas, mas saí com grande bagagem em todos os quesitos. Acredito que morávamos na escola e íamos visitar nossas casas. Fiz ótimas amizades”, explica.

Prestes a ter que sair de casa, Ana Vitória confessa estar entre sentimentos divididos. “Quando vamos enfrentar uma nova realidade é normal ficarmos ansiosos, apreensivos. Estou cheia de intensas emoções, alegria, felicidade e também um pouco triste de ter que sair do meu porto seguro, minha família, que esteve comigo em todos os momentos. Sei que pra eles também vai ser difícil. Nenhum pai ou mãe quer ter seus filhos longe, mas eles sabem que cada um vai trilhar seu caminho sozinho e que eu estou iniciando meus passos, ainda devagarinho, agora”, reconhece.

Apesar da angústia ocasionada pela mudança, a jovem se mostra determinada a iniciar a nova fase. “Nunca fui pessoa de ter medo de encarar desafios. Sempre fui de meter as caras e fazer. Me sinto, de certa forma, pronta para esse processo e estou confiante de que vai dar tudo certo, sabendo que tenho capacidade de aprender”, destaca.