Sem medidas contra Covid-19 capitais brasileiras teriam mais mortes, aponta estudo da Uece
9 de julho de 2020 - 10:54 #coronavírus #Covid-19 #isolamento social #pesquisa #pesquisa Uece #Uece #UTIs
Adriana Rodrigues - Ascom Uece - Texto
Carlos Gibaja - Foto
Em Fortaleza, mais de 1.500 vidas foram preservadas, de acordo com a análise
A Universidade Estadual do Ceará (Uece) publicou, no último dia 26 de junho, na Revista Latino-Americana de Enfermagem, o estudo “Estimação e predição dos casos de Covid-19 nas metrópoles brasileiras”. Foi o primeiro estudo “preditivo” no Brasil, com o objetivo de estimar a taxa de transmissão, o pico epidemiológico e óbitos pelo novo coronavírus no país.
O estudo confirmou a rápida disseminação do vírus e sua alta mortalidade, mostrando que, sem as medidas de prevenção e combate à Covid-19 tomadas por Prefeituras e Governos, os números de infectados e mortos seriam ainda maiores.
Para a análise, foram selecionadas as capitais até então com o maior número de casos da infecção – Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, do Sudeste; Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, do Sul; Manaus, da região Norte; Salvador e Fortaleza, do Nordeste; onde foi aplicado um modelo matemático e epidemiológico para os casos suscetíveis, infectados e recuperados.
Dessa forma, os pesquisadores estimaram o número de casos no 80º dia em cada uma dessas capitais por meio de equações diferenciais. Os resultados foram colocados em logaritmos e comparados com os números reais.
Na capital cearense, foram previstos no estudo mais de 400 mil casos da doença e 4.149 óbitos por Covid-19 até o 80º dia da curva de transmissão, se não tivessem sido aplicadas as medidas de prevenção e combate ao coronavírus. Com adoção de medidas, os números reais foram de 27.905 casos e cerca de 2.500 óbitos.
Predição dos resultados do novo coronavírus:
De acordo com a pesquisadora, enfermeira e coordenadora do Grupo de Trabalho para enfrentamento à pandemia do coronavírus na Uece, professora Lúcia Duarte, “Fortaleza estava colocada entre as principais cidades em número de casos logo nas primeiras semanas da pandemia no Brasil; e o estudo mostrou que a capital cearense tinha a maior taxa de transmissibilidade naquele período, portanto, as medidas de isolamento se faziam necessárias com mais rigor e mais precoces”.
A docente destacou ainda que, além de Fortaleza, Manaus foi outra metrópole com taxa transmissibilidade mais elevada, possivelmente com a contribuição do turismo. “Essas metrópoles têm também em comum um grande fluxo de turistas, pois são destinos internacionais; tanto Fortaleza como Manaus tiveram seus números relacionados à ocupação quase que total de leitos de UTI por Covid-19, naquele período”, ressalta Lúcia.
A também pesquisadora no estudo, enfermeira e membro do GT da Uece, professora Thereza Magalhães, fala sobre a importância do estudo. “A maioria dos estudos brasileiros já publicados sobre os casos de Covid-19 em nosso país até o momento são relatos de experiência, revisões narrativas, mas nenhum ‘estudo preditivo’”.
E explica a análise. “Os dados foram extraídos de relatórios epidemiológicos diários desde o primeiro dia em que casos da doença foram confirmados. Então, o momento representado pelos dados do nosso estudo marca o momento inicial da pandemia em algumas das principais capitais brasileiras. Seria uma espécie de marco zero, portanto, bastante fiel do retrato que tínhamos do país em um primeiro cenário, o que é sempre mais fiel que os dados que vêm depois, que comumente sofrem interveniência de mais variáveis. Esse artigo será para sempre relevante para a ciência cearense, brasileira e até mesmo mundial, sem falsa modéstia, por ser no caso do Ceará o primeiro a representar este marco zero em nosso Estado, assim como também em nosso país, e mundialmente por mostrar tão rápido quanto viável em ciência os dados da pandemia em um país de clima quente, inclusive, pela expectativa que se tinha sobre o comportamento do vírus no clima tropical, o que não foi uma variável do estudo, mas, pelos dados encontrados, viu-se que o comportamento observado do vírus aqui não foi diferente do observado nos países frios”, destaca a pesquisadora.
Desta forma, o estudo confirma a importância do isolamento social e das demais medidas de prevenção e combate ao coronavírus. Agora, com mais de 100 dias após a confirmação dos primeiros casos nas capitais analisadas, e com a flexibilização do isolamento, é ainda muito importante a continuidade dos cuidados por parte de toda a população. “A previsão inicial é de casos até o final de setembro, mas, como já passamos do pico de casos e de óbitos pela doença, estamos reabrindo a economia de Fortaleza. Assim, para não termos uma terceira onda, o principal é sair o mínimo possível, manter mínimo de um metro e meio de distância das outras pessoas, usar máscara que realmente proteja contra aerossóis, proteger os olhos e não esquecer de lavar sempre as mãos”, reforça Thereza.
O estudo contou também com mais quatro pesquisadores, todos enfermeiros cearenses – Raquel Florêncio, George Sousa, Thiago Garces e Virna Cestari.
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