Especialistas alertam para a importância da prevenção ao tabagismo no Brasil
31 de maio de 2019 - 11:00 #Inca #prevenção #tabagismo
Ascom Sesa
Não importa o lugar. A fumaça gerada pelo cigarro circula pelos mais diversos ambientes: calçadas, casas, bares, paradas de ônibus e até mesmo no seu local de trabalho. Compartilhado muitas vezes de forma irrestrita, o odor não apenas incomoda, mas também oferece riscos consideráveis à saúde. Diferentes tipos de câncer, doenças respiratórias e doenças cardiovasculares estão entre os problemas que fumantes e fumantes passivos podem ter quando expostos de forma prolongada e permanente ao tabagismo.
Um levantamento realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostra a dimensão do estrago que o hábito de fumar faz na saúde da população. A cada ano, segundo o Inca, cerca de 160 mil mortes provocadas pelo cigarro poderiam ser evitadas no país. Por dia, o cigarro sacrifica 428 vidas. Já ao longo de um ano, 12,6 % de todas as mortes que ocorrem no Brasil em pessoas com mais 35 anos são atribuídas ao uso do tabaco. Considerada uma doença crônica causada pela dependência da nicotina, o tabagismo também pesa no bolso dos brasileiros, gerando, anualmente, custos médicos diretos de R$ 39,4 bilhões.
Prevenção
Para o psiquiatra Alexandre Lima, preceptor do Hospital Dia, no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), da rede do Governo do Ceará, a prevenção do tabagismo é multifatorial e precisa ter ecos na sociedade, nas escolas e, principalmente em casa, entre as famílias. “O cigarro tem um alto poder de dependência química, pois basta um contato pequeno para causar dependência rapidamente”, ressaltou.
De acordo com a psiquiatra Raquel Maia, as estatísticas alertam para a importância da prevenção contra o tabagismo no Brasil. “A indústria do tabaco continua empregando várias estratégias com o intuito de captar novos usuários, principalmente mulheres e adolescentes. Cigarros com sabor e cigarros eletrônicos são exemplos disso. Estima-se que um terço da população adulta brasileira fuma. Portanto, além de reforçar os cuidados em saúde para aqueles que já são dependentes, ações de prevenção continuam imprescindíveis para mudar essa realidade no país”, afirma.
Restrição ao uso do tabaco em locais públicos, campanhas educativas para evitar a exposição no ambiente familiar, estímulo ao tratamento e abordagens voltadas a crianças e adolescentes são exemplos de medidas que, na avaliação da especialista, fortalecem o combate ao tabagismo. Os adolescentes, aliás, fazem parte de um panorama preocupante. Segundo o INCA, 80% dos fumantes começam a fumar antes mesmo de completar 18 anos.
População jovem
“As famílias precisam ter essa conscientização de que não há nenhum fator positivo epidemiologicamente associado ao cigarro. Portanto, um adolescente que numa brincadeira começa a fumar, não vai adquirir nada de positivo para a vida dele e ainda terá que, no futuro, parar de fumar para não ter complicações na saúde, o que é muito difícil. A melhor prevenção é não começar a fumar”, afirmou Alexandre Lima.
A psiquiatra Raquel Maia considera que a atenção com a população mais jovem em relação ao cigarro deve ser redobrada. Segundo ela, quanto mais cedo a exposição ao tabaco, maior o risco de desenvolver dependência, o que pode ocorrer rapidamente em crianças e adolescentes. “Cerca de 60% dos adolescentes que experimentam cigarro evoluem para o uso diário. Desses, 20 a 30% tornam-se dependentes. Principalmente nesse estágio da vida, a busca por reconhecimento pelos pares e por prazer imediato representam aspectos importantes para o comportamento de busca por substâncias psicoativas, dentre elas o tabaco”, disse a psiquiatra.
Tabagismo passivo
O tabagismo passivo, também conhecido como involuntário ou ambiental, é o contato secundário com a fumaça do cigarro ou de qualquer produto derivado do tabaco. Mesmo não fumando, quem convive com fumantes está vulnerável aos malefícios do tabaco. Em crianças, a inalação periódica da fumaça do cigarro pode acarretar, por exemplo, infecções respiratórias como bronquite e pneumonia. No caso de fumantes passivos adultos, a princípio podem surgir apenas reações alérgicas, mas, ao longo do tempo, a exposição prolongada ao tabagismo pode trazer consequências mais graves à saúde como câncer de pulmão e infarto agudo do miocárdio.