Dia Nacional dos Surdos: estudantes da rede estadual revelam potencial para superar desafios

26 de setembro de 2019 - 16:42 # # # #

Bruno Mota - Ascom Seduc Texto
Rosane Gurgel Fotos

Limitações físicas não devem ser impedimento para a plena participação na vida social. Compreendendo este princípio, o Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Educação (Seduc), segue investindo na promoção de políticas visando à equidade de oportunidades para seus cidadãos, tornando as escolas da rede pública estadual cada vez mais inclusivas e acolhedoras. Nesta quinta-feira (26), Dia Nacional dos Surdos, o momento é de homenagear este público, reafirmando o compromisso de permanecer desenvolvendo estratégias para aperfeiçoar as ações no ensino e na aprendizagem.

Atualmente, 316 escolas estaduais têm alunos surdos, surdocegos ou com deficiência auditiva, totalizando 803 matrículas nos ensinos fundamental e médio, além da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Jane Lima de Sousa é estudante da 3ª série no Instituto Cearense de Educação dos Surdos (Ices), em Fortaleza. A jovem, hoje com 20 anos, é fluente na Língua Brasileira de Sinais (Libras) e valoriza o conhecimento que obteve desde que entrou na unidade de ensino, em 2018. “Antigamente, era como se eu precisasse inventar sinais para me comunicar. Hoje, a situação está bem melhor. Aqui temos intérpretes e, sempre que tenho dúvida em relação a alguma palavra, posso contar com o esclarecimento deles”, lembra.

O Ices é uma escola bilíngue, que tem como primeira língua a Libras, seguida do português. Todos os alunos da instituição são surdos, sendo que alguns deles têm ainda outras deficiências. Os professores ministram as aulas utilizando a Libras. Há, também, intérpretes que auxiliam na tradução sempre que necessário, como explica a coordenadora escolar, Joseane Nunes.

“As turmas têm que ter, no máximo, 15 alunos, para priorizar o aproveitamento do conteúdo. As provas são bilíngues, em Português e Libras. Um vídeo é exibido com o enunciado e a prova é respondida por meio de cartão-resposta impresso, de forma similar ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)”, informa.

Jane revela identificação com várias áreas do conhecimento, sobretudo as disciplinas de História, Geografia, Filosofia e Português. Entre as possibilidades para o futuro, apesar de ainda não estar decidida em relação ao rumo que vai tomar, diz ter interesse em entrar na universidade para cursar Pedagogia ou Contabilidade, mas também leva em conta a alternativa de fazer um curso profissionalizante de Estética. “Sinto abertura para estas profissões”, aponta.

Mostrando-se engajada na causa em favor da inclusão, Jane defende a participação dos surdos na vida social. “Sempre que eu vejo algum surdo sem comunicação, tento incentivá-lo a não desistir, pois através da Libras ele pode encontrar uma profissão. Sempre vai ser difícil, mas, sempre teremos que continuar, assim como ocorre também com os ouvintes”, conclui.

Superação

Um novo horizonte vem se apresentando para Ruan Vitor Giffoni, que cursa a 2ª série na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Monsenhor Dourado, em Fortaleza. Aos 20 anos, o estudante vem, gradualmente, se familiarizando com a Libras. Embora tenha começado a ter contato com o idioma de forma relativamente tardia, demonstra ter entusiasmo para aprender, e vê na escola uma porta para novas possibilidades.

A Escola Monsenhor Dourado tem três alunos surdos matriculados em 2019, que acompanham as aulas com o auxílio de três intérpretes. Os profissionais se revezam na assistência a cada um dos estudantes.

“Antes de vir para a escola, em 2018, eu já sabia um pouco de Libras. Meus pais tentaram aprender e me ensinaram alguma coisa. Eu usava as mãos e tentava me comunicar falando, mas hoje me comunico melhor”, avalia Ruan.

O jovem garante sentir-se bem no ambiente de ensino. “Gosto muito do convívio. Faço disciplinas eletivas de vôlei, química e libras e gosto de todas. Na escola, também, aprendi a dançar”, revela, dizendo ainda que pretende entrar no ensino superior ao fim da educação básica. “Ainda não tenho certeza da área que quero seguir, mas, pretendo que seja algo relacionado às artes, ou à própria Libras”, comenta.

O intérprete Luciano Vieira, que acompanha Ruan na EEMTI Monsenhor Dourado, observa que o estudante tem conseguido melhorar a participação nas aulas, com o passar do tempo. “Antes, ele era um surdo que não se inseria no mundo ouvinte, por não entender e nem se fazer entendido, e nem se inseria na cultura surda, por não saber Libras. Chegou à escola com sinais domésticos, que são desenvolvidos na família, mas não têm nenhuma relação com a Libras. Havia um isolamento”, lembra.

“Agora, ele já desenvolveu algum vocabulário. Com a Libras, consegue participar da cultura surda, e ainda pode se expressar melhor com as pessoas ouvintes com quem convive, que aos poucos também aprendem a língua. Acredito que o maior ganho que o Ruan tem na escola é a inclusão social”, considera Luciano.

Estrutura

O Ceará tem investido esforços no sentido de ampliar e qualificar cada vez mais o atendimento escolar às pessoas que compõem o público alvo da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Entre as ações efetivadas neste sentido está a reestruturação da proposta de formação continuada dos professores desta área. O serviço de apoio à inclusão abrange a contratação de profissionais de apoio escolar, como intérpretes para alunos surdos e cuidadores para alunos com limitações de locomoção, alimentação e higiene pessoal.

Além disso, são ofertados serviços de suporte assegurando o Atendimento Educacional Especializado (AEE), no contraturno escolar, considerando as habilidades e necessidades específicas de cada aluno, por meio das 176 Salas de Recurso Multifuncional (SRM). Estes espaços, localizados nas escolas, são dotados de mobiliário, materiais didáticos e pedagógicos.

Há, ainda, oito Núcleos de Atendimento Pedagógico Especializado (Nape), providos de recursos materiais e equipe multidisciplinar composta de pedagogo, assistente social, psicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional.

A rede estadual de ensino dispõe, também, do Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do Ceará (Creaece), que realiza atendimento a estudantes com necessidades especiais. O Centro promove formação continuada nas diferentes áreas da educação especial, inclusive o Curso de Libras. Outro serviço ofertado é a impressão de material em braille, para cegos, e ampliação de material para alunos de baixa visão.

O acompanhamento às escolas estaduais também é feito por técnicos das Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (Credes) e da Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza (Sefor).

Antônia Alves dos Santos, articuladora da Coordenadoria de Diversidade e Inclusão Educacional da Seduc, considera como aspecto fundamental deste trabalho a identificação das potencialidades dos alunos, para além da parte curricular. “Trata-se do desenvolvimento não só do lado intelectual, mas, das habilidades de convivência. Procuramos garantir que o estudante tenha maior autonomia em sua comunicação, e especialmente, para que se relacione melhor. É muito gratificante saber que esse trabalho nas escolas tem um impacto positivo para um grande número de alunos”, avalia.